A sexualidade da mulher contemporânea

Por séculos, o sexo foi visto somente como forma de reprodução, principalmente se tratando de mulheres. Durante muito tempo, a repressão tomou conta da sexualidade feminina, onde o prazer feminino e/ou o orgasmo era entendido como patológico, algo que precisaria ser tratado. Questões mais sociais também faziam parte deste universo, pois o prazer feminino estava ligado a depravação, em que se uma mulher demonstrasse prazer, levava o rótulo de “indecente”, “imoral”, tornando a sexualidade da mulher, muito mais que um tabu, pois era inaceitável a ideia de uma mulher sentir prazer sexual.

Isso muito tem a ver, com o fato de que majoritariamente, os estudos sobre a sexualidade, eram feitos por homens, além disso, a religião, por muito tempo atrelou a sexualidade a reprodução e uma vez que você olha para um ser, como um ser reprodutor, o prazer é anulado e isso acaba sendo normalizado na sociedade.

O dia a dia da mulher contemporânea, que trabalha, estuda, cria e cuida, é repleto de obrigações, dificuldades, desafios e problemas, que são ignorados, pois vivemos em um mundo, em que é imposto que a mulher precisa dar conta de todos os desafios diários a sua volta, sem reclamar ou sem “descer do salto”. Quando a sociedade normaliza o fato de que a mulher precisa cuidar do prazer do outro e esquecer do seu, os prazeres se transformam em desafios, o sexo vira rotina, rotina vira obrigação e a obrigação traz angustia, que é a causadora de muitas disfunções sexuais femininas.

Pesquisas mostram que mais de 50% das mulheres, apresentam algum problema em sua vida sexual, sendo que muitos destes, tem origem psicológicas e podem gerar sentimentos de culpa, incompletude, baixa autoestima, sensação de anormalidade ou mesmo dificuldades de relacionamento. Todo esse bombardeio de informações e obrigações impostas a mulher, dificultam a conexão entre a mulher mãe e a mulher sensual/sexual.

Essa divisão de papeis, é cravada na sociedade, fazendo com que a mulher praticamente precise “escolher” qual papel ela pretende seguir, levando em consideração a ideia de que cabem a mulheres, as responsabilidades com filhos e os afazeres do lar, sendo estas responsabilidades, entendidas como ocupações tipicamente femininas e, no momento em que isso é normalizado, as mulheres acabam sendo obrigadas a se encaixar em lugares que não necessariamente pertencem a elas ou que elas queiram ocupar.

É necessário mudar o olhar do que nos foi ensinado até hoje, para que possamos nos compreender melhor, como seres de opinião, entendendo que a sexualidade necessita de mais espaço para ser refletida e esclarecida. Portanto, a constituição de um discurso de resistência feminina, é capaz de quebrar tabus e preconceitos, presentes no discurso de uma sociedade patriarcal, assim, construindo uma nova identidade da mulher contemporânea, que é livre para sentir e falar o que quiser, inclusive sobre sexualidade e prazer, se impondo e tratando de assuntos que antes, sequer poderiam ser citados. Hoje o orgasmo já não é mais visto como patologia, a mulher sente-se mais familiarizada, quando o assunto é o próprio prazer. A mulher moderna, já não mais espera passivamente, o prazer, ela parte em busca dele, com criatividade.

Referência:

http://www.scielo.br

https://www.bonde.com.br/saude/sexualidade

Colunista:

Mariângela Neves

Psicóloga

“Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo.”

-Michel Foucault

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