Problemas de fala e linguagem: qual a diferença entre eles?

Vamos falar um pouco sobre as diferenças entre a duas:

A fala é um ato motor, o ar sai dos pulmões, passa pela laringe atravessa as cordas vocais, e a articulação da boca emite as palavras. Existem patologias que acometem especificamente a fala.

Já a linguagem não é falar, é quando sabemos que as coisas têm um nome e um significado e, ao juntarmos os dois, transformam-se numa palavra. Um conjunto de palavras estruturadas pela gramática forma um sistema linguístico.

A linguagem tem diversos domínios, sendo:

– a fonologia, que são os sons que formam a palavra;

– a morfologia onde as palavras respeitam cada língua;

– a sintaxe onde as palavras são articuladas juntas e formam frases;

– a semântica e a pragmática que dizem respeito ao sentido, o uso social da linguagem, o falar o conteúdo certo para aquele momento.

Nas alterações de fala podemos citar a apraxia de fala na infância, que é um distúrbio motor neurológico no qual o cérebro não consegue fazer o planejamento correto dos movimentos necessários para produzir as palavras.

Já nas alterações de linguagem temos o TDL (Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem), onde a criança não consegue entender, tendo uma dificuldade inata de aprender e produzir linguagem, e irá demorar para falar e compreender.

Outro exemplo de alteração de linguagem é no autismo. Nesse caso há dificuldade na linguagem e consequentemente na fala, por uma comorbidade (associação de pelo menos duas patologias num mesmo paciente). Nesses casos podemos ter uma porcentagem de casos que além da linguagem há apraxia de fala associada.

Um indivíduo que já adquiriu linguagem e por algum motivo perde a capacidade de falar pode ter sua linguagem intacta, pois esse sistema já está construído. Porém, a criança está aprendendo, e esse aprendizado se dá no uso. Não conseguimos aprender só ouvindo, temos que produzir para aprender, então a criança com dificuldade na fala terá um consequente nível de dificuldade de linguagem, até que ela consiga fazer um uso melhor dessa fala.

Quando falamos de fala e linguagem estamos falando de desordens do que sai, porém se o problema for auditivo ou a entrada de estímulos não estão adequadas, será um problema de entrada.

O desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do sistema linguístico que nos possibilita a inserção no meio social, a possibilidade de assumir a nossa identidade, além do desenvolvimento dos aspectos cognitivos já discriminados acima.

Dentre todas as questões complexas que envolvem esse processo, o atraso “simples” na aquisição da linguagem dificulta o amadurecimento e a experimentação da linguagem necessária para a aquisição formal da leitura/escrita. Sua imaturidade linguística irá refletir no vocabulário reduzido e no conhecimento de mundo restrito. Tal fato trará repercussões na interpretação de textos e na elaboração de histórias escritas.

Falhas na aquisição e no desenvolvimento fonológico, como problemas na produção dos sons da fala ou discriminação deles podem refletir na leitura e/ou na escrita. Podem levar a criança, por exemplo, a trocar, omitir ou transpor fonemas ou grafemas. A criança demoraria a adquirir a autonomia dos processos de leitura e escrita ou podem culminar com problemas ainda maiores.

As alterações de ordem semântico-pragmáticas estão associadas à rigidez dos pensamentos e pouca flexibilidade no raciocínio, à dificuldade em atribuir sentido além do literal, associar palavras ao seu significado e compreender a linguagem falada. Desta forma, a aprendizagem não é generalizada e acaba comprometida.

Este artigo não tem a pretensão de esgotar o assunto, tão rico e amplo, mas busca agregar trabalhos que exploram diversos lados da linguagem. Ao pensarmos em aprendizagem, todos os níveis linguísticos estão envolvidos, e negligenciar um deles seria perder a oportunidade de ver o sujeito da linguagem. O intuito de abordar a faixa etária de 0 a 5 anos reflete o desejo de poder atuar precocemente, antes da entrada no ensino formal, onde as demandas são maiores e maior será o tempo a ser resgatado. Dois aspectos que ainda merecem ser discutidos são o desenvolvimento da narrativa e a aquisição da linguagem figurada, já que fazem parte de todo o processo e são de extrema relevância para a aprendizagem. Por serem menos explorados, merecem artigos à parte.

Como vimos existem diversas alterações que envolvem as questões de fala e linguagem. Em caso de dúvidas ou suspeita de alguma alteração, procure orientação de um fonoaudiólogo. Ele poderá ajudar a esclarecer a necessidade de intervenção ou orientá-lo.

Fonte: Fiorini, Jose Luiz -Introdução a linguística-SP 2011
Juliana Trintini -Fonoaudióloga 05/18
Revista de psicopedagogia vol 25, n o 78 SP  2008

Colunista:

Silmara Canassa

Fonoaudióloga

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