Transtornos do sono e impactos cognitivos e comportamentais

A quantidade e qualidade do sono somado a uma boa nutrição e exercícios físicos são fundamentais para saúde, bem-estar e desenvoltura nas atividades do indivíduo de modo geral, interferindo na sua atuação social, nas atividades laborais e relações interpessoais. (Almondes, 2014).

O sono é uma função biológica que desempenha um papel essencial na vida do ser humano, pois é durante o sono que ocorrem processos fisiológicos, neurocognitivos e comportamentais, tendo em vista que ele possui uma função reparadora, de conservação de energia, função imunológica e de proteção e consolidação de memória.

A necessidade e quantidade de sono se modifica ao longo do desenvolvimento, por exemplo, um recém-nascido tem uma duração de sono de aproximadamente 16 a 17 horas, enquanto uma criança de 2 anos tem uma necessidade de 13 horas. Uma criança de 10 anos tende a dormir 9 horas, já na adolescência essa duração cai para 7,9 horas e na vida adulta é de, em média, 7 horas. Por fim, em idosos há uma redução na duração total de sono, visto que há uma redistribuição (cochilos) ao longo do dia e diminuição de sono durante a noite.

Diante das funções importantes que o sono desempenha, cabe dizer que a privação dele e os transtornos relacionados trazem inúmeros prejuízos para a saúde física, emocional e cognitiva. A restrição de sono, por exemplo, resulta em redução na atividade cerebral, tem grande efeito na atenção concentrada (capacidade de se manter alerta por longo período), repercutindo assim em todos os processos cognitivos que requerem atenção, como a memória, por exemplo. Para que haja uma adequada retenção de informação na memória, é fundamental que a atenção esteja funcionando adequadamente, para que assim, a informação seja processada por completo e evocada quando necessário.

Outra consequência relacionada a privação ou transtorno do sono, são pequenos lapsos e respostas lentas, interferindo na velocidade de reação, bem como prejuízo na atividade metabólica, funcionamento executivo (capacidade cognitiva para realizar planejamento, organização, controle dos impulsos e regulação das emoções), provoca fadiga e interfere no humor.

Estudos apontam ainda que aumentam a propensão a transtornos psiquiátricos, surgimento e agravamento de problemas de saúde, riscos de acidentes de tráfego e absenteísmo no trabalho.

Para as crianças e adolescentes o impacto recai principalmente no processo de aprendizagem, enquanto nos adultos interfere diretamente na produtividade no trabalho e nos idosos, interfere na qualidade de vida.

Os prejuízos cognitivos e comportamentais associados a alterações do sono e fatores ocupacionais são reconhecidos como um dos grandes problemas de saúde pública e segurança, com alto impacto financeiro (Almondes, 2014)

Os principais transtornos classificados pelo DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) são:

A – Transtorno de Insônia;

B – Transtornos Respiratórios relacionados ao sono;

C – Transtornos de Hipersonolência Central;

D – Transtorno do Ritmo Circadiano de sono-vigília;

E – Parassonias;

F – Transtornos do Movimento relacionado ao sono.

As principais queixas dos pacientes se referem a dificuldade para iniciar o sono; dificuldade em manter o sono, tendo por vezes, muitos despertares; despertar cedo; sono não reparador; excesso de movimentos durante o sono; dores musculares; fadiga e sonolência diurna, irritabilidade, ansiedade e depressão. Os transtornos de sono frequentemente apresentam comorbidades como hipertensão arterial, obesidade e diabetes mellitus.

As consequências dos distúrbios do sono se desdobram em pelo menos três níveis. O primeiro se refere às alterações biológicas, que trazem prejuízos imediatos ao organismo, incluindo alterações como cansaço, falhas de memória, desatenção, hipersensibilidade para sons e luz, taquicardia e labilidade de humor. No segundo nível estão as variáveis funcionais, que tem implicações nas atividades rotineiras e cotidianas, faltas ao trabalho e risco de acidente de trânsito em função de cochilo ao volante. O terceiro e último nível está relacionado a variáveis extensivas, podendo incluir perda de emprego, sequelas de acidentes, rompimento de relações e agravamento de problemas de saúde.

O tratamento para transtornos do sono deve ser multimodal, incluindo acompanhamento médico, tratamento medicamentoso e intervenções comportamentais por meio da psicoterapia, com o intuito de promover mudanças no estilo de vida. Além disso, vale ressaltar que a quantidade, qualidade e o tempo de sono são afetados pelas tarefas e atitudes cotidianas, sendo assim alguns especialistas sugerem uma higiene do sono, que se trata de um método, combinado a outras intervenções, para evitar privação e despertares do sono. A higiene do sono inclui:

  • Fazer uma agenda (manter um horário regular de ir para cama e acordar);
  • Regular estímulos (ir para cama somente quando estiver com sono)
  • Evitar assistir TV, ler ou trabalhar na cama;
  • Se não conseguir dormir após 20 minutos, sair da cama e voltar apenas quando sentir sono novamente;
  • Controlar comida e bebida (evitar refeições pesadas 2 horas antes de ir dormir, mas não ir para cama com fome;
  • Não beber muito líquido próximo a hora de ir dormir e não usar bebida alcoólica como auxílio para tal;
  • Limitar o uso de cafeína para uma a duas bebidas por dia e no mais tardar até 4 horas antes de ir dormir;
  • Estabelecer rotina antes de dormir (utilizar práticas relaxantes enquanto se prepara para ir para cama)
  • Criar um ambiente adequado do quarto que seja propício ao sono (luzes/sons/temperatura agradáveis e limitados);
  • Limitar cochilos diurnos (até 1 hora, a menos que esteja privado de sono)
  • Fazer exercício físico (regular é desejável, mas evitar atividade física vigorosa próximo à hora de dormir
  • Evitar preocupações e ansiedade (por exemplo, pensamentos que possam desencadear preocupação e ansiedade antes de dormir).

Diante de todas essas informações, consegue analisar a quantidade e qualidade do seu sono? Identificou alguns sintomas e comportamentos citados neste texto? Se sim, busque por ajuda profissional, pois dormir bem está atrelado à qualidade de vida, bem-estar, descanso, produtividade e bom humor.

Colunista:

Jdiane Cardoso

Psicóloga

“Dar exemplo não é a melhor forma de educar. É a única” Albert Schweitzer

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